quinta-feira, 15 de março de 2012

Amigo do Coração


Hoje estou muito saudosa e por isso resolvi retornar a um tempo passado quando, sem nada de especial para fazer passava horas escrevendo para ti, discorrendo sobre os encantos desta fascinante cidade.Sim, estou em Paris e por alguns dias, sou hóspede do Méridien, hotel elegante, sóbrio e muito charmoso.
Vez por outra, paro e penso em ti. Quando será que teremos Paris só para nós? Este é um sonho que alimento através dos tempos. Por quantas e quantas vezes aqui estive e o ciclo das impossibilidades se repete. Acho querido amigo, que vou arquivá-lo num lugar secreto do coração para quando o esquecimento chegar eu possa retomá-lo e voltar a sonhar.
O que mais me encanta nesta época, o Outono, é o dourado das folhas caindo no chão, despindo ás árvores igual ao homem faz com as mulheres no ritual do amor. A luz do sol refletindo-se nas folhas caídas dando-nos a impressão de um tapete de ouro.
Fui à Roma, Florença e Veneza por uma semana. Elas, como sempre acontece, estavam repletas de turistas e sempre lindas e românticas.
Para encerrar a viagem voltei e, por uma semana serei livre para voar e dona de mim. Por isso amo tanto esta cidade. Vou aproveitar e conhecer os seus arredores onde encontramos belezas arquitetônicas e históricas, num mundo rico de cultura e arte. Sem falar nos “Bistrôs” onde podemos degustar o melhor da cozinha francesa, e o melhor, gastando pouco.
Tenho a lamentar que o tempo aqui para mim seja sempre curto, infelizmente preciso voltar. Beijos saudosos da amiga catadora de sonhos e ilusões. Paris, outono.

domingo, 4 de março de 2012

Meu querido


Apesar do inverno estar castigando o solo europeu neste ano, resolvi enfrentá-lo, esperando logo mais o ressurgir da primavera. Por isso estou em Paris sob ventos gelados debaixo do mais puro céu azul. Esta cidade será sempre o meu refúgio. Nós nos pertencemos desde tempos imemoriais. Aqui vivi várias vidas, disso tenho certeza.
O meu espírito imaterializado viajou pelos mais variados estágios acompanhando a sua evolução. Eu e Paris temos afinidades tais, que uma está sempre com a outra. Somos um ser no outro ser, como soube tão bem dizer Simone de Beauvoir com relação a Sartre.
O maior paradoxo é que estou sempre, ou quase sempre só: eu e Paris. Cheguei a pouco e a manhã ainda está encoberta pelas brumas, mas o verde já se faz presente nas árvores, sinal de que em breve a estação das flores arrebentará. Vou para o Hotel Lutécia no Blv. Raspail, o meu preferido: é sóbrio e elegante como a cidade.
A mulher morna dos trópicos invade a silenciosa e fria manhã. Apesar de alguns anos acumulados, sou como o vinho: bem conservada. Ponho um mantô vermelho que rejuvenesce e dá brilho, esta é a cor da paixão. Tudo em mim se renova. Renasço todas as vezes que aqui chego.
O meu alumbramento é o mesmo de sempre. Vejo Paris com os olhos daqueles que amam com intensidade: a cada encontro é como se fosse à primeira vez. Eu e ela temos uma longa história de encontros e desencontros, alegrias e tristezas, amor e desamor.
Sigo sob o intenso frio e vou visitar os Jardins de Luxemburgo. Gosto de caminhar ao longo dos bulevares vendo pessoas estranhas, entrando nos cafés apressadas. Paro, e me detenho nos balcões onde os frutos do mar se exibem num apetitoso convite ao almoço. É cedo, prefiro me exercitar na caminhada.
Sou a mulher invisível, ninguém me conhece. Adoro este anonimato, sou a imagem dos meus sonhos. Chego aos jardins. Respiro fundo, o ar me renova a alma, rio e sou feliz. Acompanho os pássaros que voam ansiosos na espera que as flores arrebentem e eles possam sugar-lhe o néctar, como o seio da amada. Crianças brincam e correm. Velhos casais caminham de mãos dadas indiferentes às cinzas do tempo que lhes pincelam os cabelos de raios prateados.
Entro num café e peço uma taça de vinho rouge, acompanhada de pão e queijo. Descanso o corpo, enquanto o espírito volátil corre em busca das lembranças. Meus olhos seguem as copas verdes das árvores e lembro o mar da minha cidade. De repente, entristeço. Estou com saudades. Desejo um ombro amigo para chorar. As lágrimas rolam e misturam-se com o vinho.
Discretamente, passo as mãos pelo rosto. Gosto de escrever nos cafés quando viajo, é uma forma de conversar com o meu anjo, presença oculta que me acompanha sempre. Ele é fiel, discreto, conhece bem a mulher, suas angústias e saudades.
Enxugo as lágrimas e continuo a escrever esta carta endereçada ao vento. Quem sabe, um dia terei em Paris um amigo, um companheiro, com quem possa dividir o meu amor e a louca paixão que sinto por esta cidade. Paris, 2002.

Querido Amigo


Meu querido,

Estou sempre voltando a esta encantadora cidade de Paris. Tenho certeza de que nunca vou me cansar de caminhar pelas suas ruas em qualquer época do ano. Faz tempo que não deixo a minha ensolarada cidade do Recife para enfrentar os ventos frios e brumas, tão constantes nessa época do ano.
Eis que se apresenta uma oportunidade e não resisto. Vou passando pelo tempo que me maltrata de todas as formas. Lembro-me bem, quando caminhava por essas mesmas avenidas, usando elegantes sapatos altos, cabelos soltos esvoaçantes e faces coradas. A própria felicidade encarnada na mulher tropical, livre, leve e solta.
Hoje, mais comedida, novamente só, retorno aos pontos tão conhecidos fazendo um itinerário proustiano, onde a cada momento, eu me deparo com o ontem o trazendo inteiro para o aqui e agora.
Vim para os jardins de Luxemburgo, entro no meu café preferido, perto da Fontana dos Médicis e sorridente, cumprimento o gordo e bonachão Mâitre que, atencioso me acompanha até a pequena mesa. Parece que somos velhos conhecidos.
Sento e pouso as mãos marcadas pelo tempo sobre a colorida toalha, enquanto chega o cardápio. Não preciso ver. Dessa vez, para espanto do M. Dupuy peço uma taça de champanhe e morangos. Está acostumado a me servir “bordeaux rouge”.
Observo as pessoas que passam apressadas, conversando, rindo, gesticulando. Parece que todos aqui estão correndo para algum encontro. Alguém, sobriamente vestido, com um chapéu caído sobre a testa me cumprimenta acenando. Não sei quem é talvez, tenha me confundido.
Aí penso, todas as pessoas de meia-idade são parecidas. Não importa, ainda quero vir muitas vezes a este Café. Não tenho pressa nem hora marcada com ninguém, sou dona absoluta do meu tempo. Apanho um bloco e começo a fazer pequenas anotações.

Vim vez à Paris disposta a criar um roteiro sentimental para os amantes. Para isso, é necessário estar acompanhada de um bom vinho ou de alguém interessante. Faço uma lista dos lugares que pretendo revisitar nesses dias que irei flanar por aqui. O telefone toca e uma velha amiga diz que soube da minha presença na cidade.
Combinamos um encontro nas colinas de Montmartre quando o sol for se esconder. Estou rindo e lembrando de um outro fim de noite, quando cansados, sentamos nas escadas da bela Sacre Coeur com uma garrafa de Cidra na mão (o pequeno restaurante ia fechar e fomos postos pra fora). Que noite! Depois descemos e fomos dançar no Pigalle, não sei onde, mas que foi maravilhoso disso tenho certeza e jamais esquecerei.
Pois é querido amigo, Paris é sempre uma festa para todos aqueles que são apaixonados por ela. Abraços carinhosos com sabor de champanhe e morangos da amiga. Jardins de Luxemburgo. Paris