segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Amigo do Coração


Amigo do coração,

Chove muito em Paris. Aproveito a estiagem e vou passear no Jardim de Luxemburgo onde as arvores estão cobertas de dourado e o quadro é digno de um pintor. Os pálidos raios do sol derramam-se sobre elas formando um céu cintilante de estrelas. A nostalgia bate e lembro de um frio inverno, com as arvores nuas e leves camadas de neve envolvendo as poderosas deusas do Olimpo, espalhadas por esses jardins. Tu aquecias o meu corpo e a minha alma num doce e amoroso abraço.
Foram dias maravilhosos que jamais se apagarão das minhas lembranças. Espero que Deus ainda me permita transformá-los em realidade e vivenciá-los outra vez. Quem sabe se o sonho se realizará? Enquanto tiver saúde e condições pretendo voltar sempre. esta é cidade da minha paixão. Deus protege os que amam e sonham. Tenho certeza que os meus pensamentos se transformarão em realidade e então dividiremos o nosso tempo entre o sol do meu país e a primavera do teu. Sonhar é uma dádiva divina, custa pouco e aquece o coração.
Atravesso os jardins sobre um forte vento e vou caminhando para o Café de Flore, outro ponto que marcou por demais as minhas saudades. São 17 horas e estou sentada na “vitrine” referência às mesas postas na calçada. Como de costume, peço uma borbulhante taça de champanhe e brindo em tua homenagem. Pessoas passam indiferentes à velha senhora solitária que escreve o tempo todo.
De repete surge do nada um jovem tocando clarinete e eis que envolve o ar com velhas e tradicionais canções francesas: La Vie em Rose, Hino ao Amor, Sob o Céu de Paris, etc. Lágrimas escorrem silenciosas pela minha face, mas confesso: São de total felicidade. Estou feliz e, apesar de querer muito que aqui estivesses para trocarmos confidências e rirmos da vida que não é nada fácil, continuo alimentando o sonho. A minha felicidade é maior, pois estou só comigo mesma, livre de pessoas fúteis e insensíveis. O dia de hoje nesta viagem foi dedicado exclusivamente a mim, pois egoisticamente sou a minha melhor companheira.
Agradeço ao garçom, cumprimento o jovem clarinetista e sigo pelo iluminado Boulevard. Vou jantar me despedindo de Paris no Le Procope, lugar de muito charme e glamour, um dos mais antigos restaurantes de Paris e dos meus preferidos. Claro, tu estarás comigo nos meus pensamentos e juntos iremos nos afogar no delicioso vinho Sancerre.
Caminho de volta ao hotel sob as luzes bruxuleantes dos velhos lampiões e uma fina chuva caí. Ninguém se incomoda. Poucos abrem o guarda-chuva, muito menos eu. Lembras das nossas alegres caminhadas nas noites de inverno? Chuva, frio e muito calor em nossos corpos e faces coradas pelo vinho e pela felicidade. Até breve amigo. Um dia Paris será inteiramente nossa, disso tenho certeza. Beijos e saudades de uma noite de outono. Paris, 02/11/011.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Amigo do Coração






A vida sempre nos surpreende e mais uma vez estou realizando um grande sonho. Conhecer este País que tanto amo visitando suas pequenas e bucólicas cidades. Estou no sul, numa linda cidade que lembra a nossa Boa Viagem, cercada pelo mar, com muito sol e calor. Se fosse jovem estaria saltitante usando shorts e tomara que caia.

Com a minha solidão consentida e sabendo que os meus filhos e netos estão bem, me sinto uma idosa na adolescência. Pelo menos os sonhos são jovens, coloridos e reais. Estou num pequeno Hotel às margens do Canal desfrutando de uma belíssima vista. Foi para mim uma surpresa esta cidade, que além do mar está abraçada por um grande lago.

Aqui me parece um paraíso, principalmente para aqueles que já viveram muito, pois é grande o número de pessoas idosas. É lindo ver a placidez das faces enrugadas, a prata dos cabelos e pares amorosos passeando de mãos dadas pelas ensolaradas ruas.

Às margens dos canais, restaurantes especializados em frutos do mar, especialmente ostras por sinal, magníficas. Sigo num barco que leva turistas para passeios entre os canais. Muita gente à minha volta e a tua velha amiga deixando-se acariciar pela brisa do mar com os cabelos soltos ao vento, que o vento curtindo a maior liberdade.

Esta cidade, berços dos poetas, tem entre seus filhos ilustres Georges Brassens e Paul Valery, que está sendo homenageado num encontro de escritores onde acontecem conferências, recitais de poesias, filmes, movimentando todo o fim de semana. Que bom para mim!

Visitei o Museu Georges Bressens e o cemitério onde ele está enterrado, que fica bem à frente, com uma bela vista para o lago. Do outro lado temos um Museu e no alto da colina, cercado pelo mar o campo santo onde dorme Paul Valery

Aqui tudo é poesia. Até a harmonia entre os grandes e pequenos cães, que servem de companhia para homens e mulheres, velhos ou jovens. Até agora como boa observadora que sou da vida, não vi nenhuma expressão de infelicidade ou abandono nos olhares dos velhos casais. Que bom! Estou feliz por descobrir este pedaço de paraíso. Beijos e muitas saudades. As margens do mediterrâneo. 26/11/011.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Querida Graça (in memorian)




Nas galáxias onde habitas provavelmente vens acompanhando a minha trajetória por esse País que tanto amavas. O tempo passou e novamente volto sem a tua companhia o que é lamentável, pois era nossa intenção sair desbravando este território espalhando ao vento toda a nossa paixão. Infelizmente estou literalmente só, apesar de fazer parte de um grupo com mais de 30 pessoas.

Quando não temos com quem dividir emoções, nos sentimos abandonadas. Eis o que acontece comigo nesta viagem. Mas como me conheces bem, corro para o papel e derramo nele todos os meus sentimentos. Voltei ao Vale do Loire e lembro da primeira vez que estive aqui com amigos franceses por uma semana, visitando de carro suas pequenas cidades, entrando e saindo de Castelos milenares com o entusiasmo e alegria da juventude. Foi uma viagem prazerosa.

Hoje faço um caminho diferente, pois vimos da Bretanha visitando Angers, Caen, Tours, Samour e Amboise. Revendo estes belos Castelos podemos sentir a vida rica deste país num passado milenar onde reinava o luxo, a pompa e o bom gosto dos reis de França.

Estamos em Chenonceaux esta pequena jóia doada à Diana de Poitiers pelo Rei Henrique II e, questiono como deveriam sentir-se àquelas mulheres esposas, amantes, favoritas dos poderosos reis que tudo faziam para agradar-lhes? Outra história que me impressionou visitando as ruínas de um Castelo Medieval foi a de Ana da Bretanha que virou a cabeça do Rei Carlos VIII. Ah! amiga que mulheres poderosas! Que fracos são os homens de hoje, ou somos nós mulheres que perdemos a nossa força?

Assim, sigo passeando por esses lugares de sonhos, entrando e saindo de cidades pequenas e encantadoras, visitando museus, monastérios, grutas e santuários. E por falar em religião, foi o de Lourdes o que mais me tocou. Foi até hoje a única concentração religiosa de que participei onde a fé e o respeito se fazem sentir em todos os sentidos. É emocionantemente lindo.

Nunca esqueci de que me falavas sempre quando eu viajava para a França, que o visitasse. Pois não é que durante a Procissão onde fiquei praticamente só, senti junto de mim as presenças dos meus mortos queridos, inclusive a tua! Fiquei feliz, pois a emoção do momento foi dividida com pessoas que realmente me quiseram bem.

Seguindo por esse país afora, estamos em Rocamandour lugar místico e belo, apenas o tempo foi curto para aproveitarmos à beleza das pequenas ruelas que formam a cidade. É uma pena que nestas excursões eles não saibam avaliar onde está o diferente, o bucólico, o pitoresco.

Hoje chegamos a Andorra, este país pequeno e encantador montado nos Pirineus na fronteira da França com a Espanha. Passamos um dia inteiro e vamos agora para Mont Serrat, Barcelona e Nice. Saudades, muitas saudades de ti, encantada amiga do coração. Principado de Andorra, outubro de 2011.