segunda-feira, 25 de junho de 2012

Meu querido amigo

Pensei que nunca mais poria os pés neste encantador País. Os anos passam tão rápidos. Ou somos nós que passamos por eles? Sentada num ensolarado dia num dos meus cafés preferidos, o Flore, faço o que mais gosto. Observo o mundo passar nos variados tipos de gente e sinto uma fantástica sensação: ninguém me conhece! Assim, como se eu habitasse uma outra galáxia. E agora pergunto: e tu amigo de tantas confidências e lembranças, qual será a tua morada? As cartas que escrevo percorrem um caminho sem fim à tua procura e nunca recebo uma resposta. A última que recebi faz tanto tempo, que já esqueci o mês e o ano. Lembro apenas que estavas numa pequena cidade da Provença e ao passar num campo de girassóis, lembrastes de mim enviando um belo cartão. Nele falavas de amor e paixão. Pela milionéssima vez conquistavas uma nova mulher. És perito na arte da paixão e, assim, oferecias-lhe uma porção de sonhos o que sabes fazer muito bem. Sendo tua velha amiga e confidente, ri ao ler as palavras de entusiasmo e a promessa: desta vez é para sempre. Apenas questionei: quanto durará a eternidade dessa paixão? Desejei e isto é a pura verdade, que a mosca azul do amor picasse forte o teu coração e dele nunca mais saísse. Aí me vens com esta triste história e, que tragédia! Estás realmente caído e tentas a todo custo uma reconquista, mesmo sabendo que não há reciprocidade. Cuidado amigo, pode te custar muito caro. Foi preciso deixar o tempo passar para ficares à mercê de uma mulher. É isso aí. Há um ditado que diz: “quem com muitas pedras mexem, uma lhe cai na cabeça”. Cuidado para não te “ferrares” como dizem os jovens do nosso tempo. O amor é o maior pregador de peças do mundo. Assim, respondo ao teu cartão, desejando de coração que sejas muito amado e feliz. Paris,

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Amigo do Coração

Escolhi uma pequena ilha do litoral norte para comemorarmos o teu aniversário. Só uma vez tivemos esta oportunidade, assim mesmo cercados de amigos. Agora não, estamos sós, num local ainda pouco visitado pelos turistas, pois o verão está frio e o tempo é chuvoso. O mar, coberto por brumas cinzentas continua no seu eterno vai e vem de ondas brancas e sorridentes, indiferentes ao tempo que passa derrubando sonhos e esperanças. Hoje, somos quase velhos. Fui ao pequeno e acolhedor “Bistrô” e mandei preparar um jantar especial para nós dois: “grenouilles à la provençal”, acompanhado de um “Chateau Latour, domaine Puillac, bordeaux, 1975”, um vinho jovem é verdade, mas para nós, é bom ter um pouco de juventude, pelo menos no vinho. Vi que estavas cansado da viagem e deixei que ficasses sozinho no hotel, assim descansarás para a noite que será muito especial. Sei que irias te preocupar pelo fato de sair sozinha numa tarde fria e chuvosa, enfrentando ventos fortes. Mas era necessário. Senão, como iria preparar a surpresa? Além do mais, eu também precisava caminhar e aproveitar o mar, bem sabes o quanto ele me agrada quando está bravio. O meu presente será esta carta, a qual redijo no Mirante, num ponto isolado da ilha. Tenho á minha frente lápis e papel e um forte “congnac” que saboreio aos poucos, uma forma de aquecer o corpo e a alma. Quero deixar aqui a minha carinhosa mensagem de parabéns. Lembras-te que um dia nós falamos: “quando formos velhos o calor da paixão irá aquecer os nossos corações." Agora vivenciando o inverno da vida quero dizer para ti que, mesmo com o furor sexual amortecido, dentro de nós, ainda existe muito fogo e paixão. De ontem para hoje espaçosas décadas nos separam, mas os sentimentos continuam jovens tal qual o vinho que irá nos aquecer à noite. Antes de retornar, irei me preparar para ti como uma noviça; Aos teus olhos não serei a velha senhora de formas arredondadas, cabelos rareando e rugas teimosas, que arrebentam os cremes mágicos de beleza e teimam em se mostrarem. Quero que me vejas como uma sílfide saindo das ondas, coberta pelos raios prateados do luar, entregando-te não só o corpo, como também a alma, num louco banquete de amor. Feliz aniversário amigo irreal, habitante de uma galáxia perdida.