sábado, 27 de março de 2010

Cartas de Paris

Querida amiga,

A vida continua a me levar por caminhos inesperados Faço-te esta carta de Paris, para onde vim de forma inusitada. Lembras de quando te falei do meu marasmo existencial na última carta? Pois é: um dia, quando as esperanças tinham-se evaporado e a tristeza começava a se infiltrar no meu coração, eis que chega às minhas mãos uma carta reativando toda a minha capacidade de acreditar nos sonhos. Temerosa, abri o envelope e li nas seguras linhas corridas no papel à promessa, em forma de convite, de que a felicidade pode estar sempre a nossa espera.
Despertei para a realidade: eram as mesmas palavras carinhosas, falando de saudades e desejos adormecidos, junto com um bilhete de avião. Como sabes, fazia muito tempo que Eduardo não dava notícias: um silêncio inexplicável. Conheces-me bem, não sou capaz de correr atrás do impossível, e ele sempre se apresentou assim para mim. Creio que, pelo fato de tê-lo amado ou me deixado amar por ele numa determinada fase da vida, não me dava o direito de exigir algo mais do que pudesse me oferecer Daí a minha surpresa: por isso, como sou uma pessoa que sempre atende ao momento presente e só vive o hoje, não pensei muito para aceitar o convite.
Foi tudo tão rápido que só me dei conta do que estava fazendo quando entrei no avião. Passei parte da noite de olhos abertos tentando enxergar a realidade do hoje, mas só vislumbrava o futuro. Cheguei a me olhar no espelho e ri para a mulher de olhos brilhantes que nele se refletia. Qual de nós é a real? Pense! Fui a última passageira a descer, pisando no tapete da passarela como se flutuasse. Não via ninguém, tal era a minha ansiedade. Ao desembarcar, vi Eduardo, vestido de jeans azul, sorrindo e fazendo sinal Retribui, apressei os passos e corri para ele. Tão ansiosa estava que deixei a bolsa cair, derramando tudo pelo chão. Ele abaixou-se e pôs tudo no lugar. Estávamos tensos. Quem realmente estava ali a minha frente, o alegre e jovial homem de ontem ou o maduro senhor de hoje? Não os podia distinguir. Ambos se misturavam. Saímos abraçados e só falamos quando chegamos ao carro. As palavras jorravam desencontradas, lágrimas e beijos se confundiam, os corações batiam fortes e as mãos, quais caminhantes cegos se procuravam e se perdiam, procurando tocar na pele um do outro. Bocas sedentas se encontraram num longo beijo, fazendo-nos na felicidade. Passamos na praça feericamente iluminada. Entramos no hotel e embalados pelos sonhos, subimos para o apartamento, onde flores e champanhe nos esperavam. Tudo igual como era antes, apenas o homem e a mulher estavam cansados dos desencontros da vida, mas ainda tinham muito amor e paixão para se ofertarem. Corpo e alma se fundiram e a felicidade antes perdida, reapareceu, fazendo-me novamente tornar o sonho realidade. Assim me despeço, cara amiga, mergulhando no infinito encanto desta bela e glamourosa cidade. Abraços.