quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Querido Amigo

“Querido amigo,

Estamos no mês junho. Paris, como sempre está magnífica, florida e com a temperatura entre quinze e vinte graus. É realmente, uma cidade refrigerada e o Paraíso, se existe, deve ser assim. Novamente, faço aquele velho roteiro sentimental pelas suas ruas e avenidas. Gosto de admirar os belos e sóbrios prédios, sua arquitetura e estilos.

Vim acompanhando um grupo de artistas plásticos para realizarem o sonho da vida inteira: Mostrar seus trabalhos nesta cidade, onde a arte é de todos e para todos. Para este projeto tive o aval do Senador Ney Maranhão que enviou uma carta de recomendação ao Jornalista Sebastião Nery, atuante Adido Cultural da Embaixada do Brasil. Infelizmente quando fui entregar-lhe a carta ele de nada sabia. Deixei uma senhora brasileira que prometeu reservar a Galeria e fazer os contatos com a Embaixada. Ela nada fez e foi aí que começou a minha “via crucis”. Finalmente conseguimos o local e tudo aconteceu.

O senhor Sebastião gentilmente se fez presente ao coquetel de abertura da Exposição com o assessor Antenor Borgeas e o representante da Unesco. Entre os convidados o Pintor Cícero dias, pernambucano e amigo de longas datas, acompanhado da esposa Raymonde, para enlevo dos artistas expositores, o Diplomata Marcel Morin e senhora, M. de Fortuit ex-Embaixador da França no Brasil e o vereador Alain Rivron que, diga-se de passagem, nos ajudou convidando pessoas ligadas ao mundo das artes. Assim, tivemos uma bela vernissage e um delicioso coquetel regado a champanhe.

Ontem, os artistas viajaram para Gênova onde vão participar da Exposição comemorativa do descobrimento das Américas. Resolvi permanecer aqui no Hotel Argentine, onde plantei o meu quartel general e só depois irei encontrá-los. Assim poderei respirar depois da tempestade.

Livre, leve e solta, com Paris só para mim, fui conhecer o belo Castelo de Chantilly, cercado de campos verdejantes e jardins. Cheguei cedo para aproveitar o silêncio e a beleza dos arredores. Passei um dia maravilhoso e, à noite, me ofereci um jantar à luz de velas, acompanhado do excelente vinho, “Romanée Conti”, não lembro a safra, mas sei que é um dos teus preferidos.

Toda essa extravagância, meu querido, para compensar os inúmeros aborrecimentos que, pela primeira vez, tive nesta cidade. Mal entendidos aconteceram e, devido à mediocridade de alguns dos artistas, sérios problemas foram criados e quase me transformam numa segunda Joana D´Arc.

Bem, a tempestade passou. Que maravilha! Aceitei o convite dos meus amigos e almocei com o simpático casal, os Morin, e nos deliciamos com ostras e champanhe.

Hoje fui convidada pelo meu amigo Embaixador M. De Fortuit para jantar no Ciel, charmoso Restaurante do Hotel Concorde Lafayette, de onde vemos Paris maravilhosamente iluminada. Bem podes imaginar a nossa farra gastronômica. Entre uma taça de champanhe e outra, eu me delicio e lembro de ti e do quanto gostas das minhas declarações de amor a esta bela e encantadora capital do mundo.

Deves, acredito considerar-me muito louca, enfrentar tempestades e ainda ousar pedir o néctar dos Deuses. Esta sou eu, tua amiga do coração que ama, e sempre está feliz em Paris. Abraços com saudades e muito afeto. Paris, 15 Junho de 1992. Ina Melo.”

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